sábado, 29 de março de 2014

Mês de fevereiro

nenhuma oração
mandinga, macumba
evangelho, mantra
consegue me explicar
essa vontade que eu tenho
de licitar
esse sentimento
de angústia
tesão
nos dias
mais nublados
nas fotos
- rasgadas
que eu remendo
no dia 26
de fevereiro
de todo ano
aos berros
sem som
no fundo da alma
chorosa
nostálgica
ninguém me explica
essa sensação
de ovular asteróides
todo mês
de carnaval
inteiramente
eu, conscientemente
desejando
você inteiro
o timbre, a dobra nos braços
o cotovelo
estupidez
malditas manias idiomáticas
é assim, todo mês
maldito mês
em que , Deus
em uma sabedoria nociva
uniu
parou
o universo
a mecânica dos fluidos
a planta do arquiteto
o ataque terrorista no talibã
paquistanesas 
o equilíbrio natural dos dias
o rio Sena
o rio Araguaia
o sol da meia noite Finlandesa
a flora amazônica
o meridiano de Greenwitch 
o meu andar
o meu peito
o seu, o dele, o dela
de todos nós
a bíblia sagrada
enfurecida
pelo pecado original
cometido por Deus
naquele mês
que ele humanizou
o sentimento
amoroso 
ao tato carnal
pornográfico
naquele dia
o meu RG mudou
porque a numerologia
não estava preparada
pra tamanha mudança
bruta
incoesa
do fluxo
atemporal
do meu corpo
perdido do espaço
você
no bocejo da manhã
devia ter lido o horóscopo matinal
e os deuses
deviam ter te orientado
a não cruzar
a rua Américo Vespúcio
aquele dia
mas 
por teimosia ou vontade
por amor, ou vaidade
cruzou
não só a rua
mas a minha vida
naquele dia (maldito)
26 de fevereiro.
brasileiro, carnavalesco,
e inteiro...
seu.


Ânsia

porque eu quero
insana
corrigir as vírgulas
- as dele
no lugar errado
apenas para ter
o imenso prazer
de estragar:
estuprar
suas idéias
idiotices de convivência
com idiotas por prazer
e eu aqui, sozinha
fiel
como um cão
que inutilmente
vai à porta ver se o dono chegou
só pra ter certeza
que a ânsia de vômito
o buraco na alma
nos dias, na cama
em mim
irá continuar
sem fim, sem prazo
só me resta
essa poesia
esse presente, a próxima letra
o próximo verso
o tempo
a mecânica do tempo
utopia atemporal
da saudade
que eu sinto
de você.

Cento e treze

Ninguém consegue alforriar minha poesia
Da sua inspiração demoníaca e costante
Sou quase dogmática em versos
Pregando o certo e o errado
De todas as vértices, pontas, cálices, pedaços extremos desse amor
Com tantas outras mulheres, pálidas, jovens, confiantes e emocionalmente ativas
Qual delas,me diga
O CPF, o RG
Qual delas,assuma
Escreveria cento e treze poemas pra você?



Não sou Jesus Cristo

Não sou jesus cristo
Não me rodeiem com orações
Pedidos de perdões, rezas, macumbas para/contra vocês
Oxalás,Iemanjás no vinho sacrossanto, não!
Não sou apostólica romana
Ortodoxa, paradoxal
Não sou fé cega
De idadé média, de credos no céu
Não queimo intelectos
Sou incerto,mas certo de mim
Corretamente bondoso, Deus me livre!
Não sou oriente, ocidente, alcorão
Biblía sagrada, sermões para ovelhas
Longe de mim
Sou maria madalena
Do pecado original
Pecaminosamente santa
Julgada
Dopamina
Que o mundo denegriu
Socialmente vexatória
Humilhada pela hipocrisia
Doentia
E piedosa
Presente nos olhos 
De quem
e de todos (muitos)
Que se consideram Jesus